14/05/11

TIAGO SOUSA


Tiago Sousa -"Folha caduca" from Tiago Pereira on Vimeo.
PROJECTO 125

"FOLHA CADUCA"
Filmado na Dinâmica - Pianos e Som - Carcavelos
12 de Maio 2011

Realização: Tiago Pereira
Som: Nélia Marquez Martins

Canon 5d
Micro beyerdynamic EMX 86


Músico barreirense que se tem afirmado a passos largos no panorama musical português, seja pelo seu trabalho desenvolvido na editora Merzbau ou pelos inúmeros projectos em que participou. Iniciada em 2006 com ‘Crepúsculo’ e coroada com a edição do muito aclamado “Insónia” pela Humming Couch já em 2009, a sua obra pauta-se por uma singular abordagem ao piano, que partindo das coordenadas dispersas de compositores como Erik Satie ou Claude Debussy as reposiciona num contínuo onde o minimalismo de Terry Riley coabita confortavelmente com a sensibilidade indie de quem aprendeu muito com os anos de militância activa fora dos meandros mais académicos.

1 comentário:

  1. Tiago, foi este o texto:

    "A manhã lançava calor aos primeiros passos da madrugada, quase falando de boca fechada, arremessando verdades naquele silêncio de quem sabe tudo mas não diz nada. Na rua encharcada onde a chuva pingava gotas invisíveis, multifacetadas, no asfalto brilhante, o frio não era nada. O frio não era nada, o frio não era mais nada que uma diferença entre o corpo e o ar, entre o ser da pele e o espaço que mudava, o espaço que ficara confinado entre as nuvens, o manto baixo das nuvens, um cobertor cinzento e espesso, fosco e multiforme de nuvens. E o sabor da tua pele era uma lembrança que pingava.
    Estava calor. Na rua, eram quase espelhos as pedras da calçada, quase cristais as pedras brilhantes da rua, apenas calcário, mas com as gotas da chuva que mal se viam eram uma veladura, fina, uma camada suave e transparente como de verniz onde as luzes morriam na madrugada. Nascia o dia e as pedras da calçada não faziam ruído na sola dos passos, não recusavam o ir nem devolviam o som das passadas. O calor da rua pensava que o som provável da chuva poderia ser uma das tuas gargalhadas.

    As paredes choravam, o dia condensava em gotas a diferença, a ausência, do gelo, do vento, do frio… nos muros, nos tectos, nas paredes o dia condensava em gotas a tua presença. A camada opaca e cinzenta de vidro não era uma vidraça, a camada lisa, cinzenta e opaca, não era mais que a diferença, a fronteira entre mim e a lembrança, a ténue camada do longe e da distância. O frio não era nada, o frio não era mais nada que uma divergência entre o corpo e o ar, entre o ser da pele e o espaço, a mudar.
    A chuva trazia claridade, a chuva parecia derreter a luz do sol que brincava com as cores, a chuva trazia o sol em desenhos de luz, brincava aos pintores.
    Estava calor e assim o dia, o dia brotava em todo o lado em gotas, lágrimas sem dor, tudo salpicava, escrevia. Em todas as paredes o frio do dia tinha-te posto em mil gotas a cintilar, o brilho dos teus olhos, a tua alegria. Tinha-me salpicado o peito com o teu suspiro em mim, o maior fragor que o silêncio podia ter… o nascer da saudade de ti."

    ResponderEliminar